A trajetória de Abdias Liberato dos Santos em Castanheira, onde chegou em agosto de 1984, mostra a saga quase comum a tantas famílias do sul do país em busca de um novo horizonte, enfrentando grandes dificuldades. “Por aqui era só mato. Tivemos que fazer uso do machado para as primeiras lidas com a terra. Chegamos a comer feijão com farinha e peixe, que pescávamos no Corgão, na linha 3, por muito tempo”, contam ele e a esposa, Maria Aparecida Barros do Santos.
A primeira parada deste funcionário aposentado da Prefeitura Municipal em terras do Mato Grosso, se deu em Denise. “Eu devia ter uns 12, 13 anos e viemos para trabalhar na lavoura”, destaca Abidias, lembrando dos tempos de vivencia com os pais, José Liberato e Maria Araujo dos Santos, já falecidos. Da mãe, destaca a luta para melhorar a renda da família, confeccionando pães.
Hoje residindo no Projeto Casulo, na Chácara Coqueiro, onde cria galinhas, porcos e quatro a cinco vaquinhas, que ajudam na produção de alimentos “para o gasto”, Abidias sonha com o recebimento do título definitivo da terra. “Isto trará muito benefício para as 17 famílias que residem na área”, diz. Ali recebe esporadicamente a visita dos filhos. São três, apenas um residindo em Castanheira.
Em Castanheira, exerceu várias funções no setor de Obras do município. “Fui mecânico, lixeiro, trabalhei no caminhão pipa, prestei socorro aos ônibus escolares e cheguei a chefe de campo”, lembra. Se aposentou a três anos por motivo de saúde.
De boa prosa, fala do envolvimento em várias ações comunitárias, como o empenho nas primeiras festas de comunidades, na região dos Assentamentos num tempo que não havia luz elétrica. “O povo era animado nessas festas, ficando quase 24 horas no ar”, ressalta. Em tempos de Copa do Mundo, lembra da edição dos tempos de Ronaldinho na seleção brasileira, quando montou uma estrutura no 2º Assentamento, na Comunidade São Paulo, para que todos pudessem acompanhar os jogos.
De Castanheira tem as melhores recordações, inclusive dos tempos difíceis, superados com a ajuda de sua amada, conterrânea do Paraná, que veio a conhecer em Denise. Ele é de Paranavaí, onde nasceu há 66 anos. Ela, de Nova Esperança. “Essa terra é um paraíso, lugar sossegado e de um povo humilde”. Sua luta pela terra que adotou lhe rendeu o título de “Cidadão Castanheirense”, outorgado pela Câmara Municipal em 13 de dezembro de 2010, por indicação do então vereador Elias Cavalheiro.